segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Álvaro de Campos e Alberto Caeiro

"Álvaro de Campos retoma em Caeiro a urgência de sentir. Mas o Pessoa-Campos não lhe basta a "sensação das coisas como são". Álvaro de Campos precisa de "sentir tudo de todas as maneiras". [...] "Assim, [como nos diz Pessoa] aplica-se a sentir a cidade na mesma medida em que sente o campo, o normal como sente o anormal, o mal como sente o bem, o mórbido como sente o saudável. Nunca interroga, sente. É o filho indisciplinado da sensação."
Jorge Fazenda Lourenço, Fernando Pessoa, Ulisseia

1 comentário:

  1. Para Caeiro nós somos perfeitos quando apenas sentimos, sem olhar para trás.
    Campos, o “filho indisciplinado da sensação", faz do sentir quase que uma obrigação "Álvaro de Campos precisa de sentir tudo de todas as maneiras". O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir "Nunca interroga, sente".
    Campos aprende de Caeiro esta urgência de sentir, mas como Jorge Fazenda Lourenço diz "não lhe basta a sensação das coisas como são". Campos procura então a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma "sentir tudo de todas as maneiras".
    Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica (ex : "Ode Triunfal") , como expressa o desencanto do quotidiano citadino (ex: "Aniversário").
    O heterónimo de Pessoa, Álvaro de Campos, revela, tal como ele, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra, o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.

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